Particularidades dos Goleiros do Futebol de 5

Por Priscila Bittar

O futebol de 5, ou futebol para cegos, é uma das 22 modalidades dos Jogos Paralímpicos desde Atenas 2004 e o Brasil foi campeão em 2004, 2008, 2012 e 2016. Os times são compostos por um goleiro que enxerga e quatro jogadores de linha com deficiência visual. Para conhecer a modalidade acesse http://cbdv.org.br/fut5, e suas regras (em inglês) https://blindfootball.sport/wp-content/uploads/2021/02/960-Rules-IBSA-Blind-Football-B1-Rulebook-2017-2021.pdf.

No jogo de futebol de 5, o goleiro possui função importante tanto na defesa da meta quanto na organização de seu time, de maneira ativa, sendo ele o único responsável por orientar os jogadores no terço defensivo da quadra. O goleiro pode informar quem é o atacante que está com a bola, quem deve abordá-lo, se há outros adversários, etc.

Ele também deve orientar sua defesa quanto ao posicionamento em quadra, verbalmente e às vezes até levando seus jogadores à posição certa. Diferentemente das outras modalidades, no futebol de 5 o goleiro pode receber com os pés uma vez a bola de seus companheiros, mas não pode conduzi-la para além de sua área, limitando sua ação ofensiva. E como sua área é bem reduzida (2 x 5,82m), seu espaço de atuação com as mãos é menor e os chutes dos adversários são mais próximos.

Quanto às reposições de bola, o goleiro obrigatoriamente deve fazer com que a bola toque o chão antes que ela ultrapasse a metade da quadra.

Muitos (senão todos) os goleiros são oriundos do futebol, do futebol soçaite ou do futsal. Desse modo, os goleiros dispostos a participar do futebol de 5 precisam se adaptar aos constrangimentos da modalidade, mesmo que as técnicas de defesa sejam comuns e transferíveis às modalidades citadas (base, esquadro/espacate, queda…).

É muito comum, devido à especificidade do goleiro, que este tenha seu treino separado dos colegas de linha. E no futebol de 5 não é diferente, ainda mais que os goleiros vêm de outras modalidades. Mesmo o goleiro tendo ótimo desempenho na sua modalidade de origem, não garante que ele obtenha o mesmo rendimento que no futebol de 5.

O t reino em separado prejudica e desacelera suas adaptações. Por mais que eles simulem da melhor maneira possível as situações que o atleta pode enfrentar durante a partida, a comunicação entre os jogadores, as próprias percepções das affordances (oportunidades de ação), as tomadas de decisão e as capacidades/habilidades de cada atleta em quadra são aprendidas e percebidas com mais eficiência quando treinam todos juntos.

Aqui, treinar junto é além de estarem num mesmo espaço, e sim, estarem ativos, participando efetivamente numa mesma atividade. Esses fatores são importantes em todas as modalidades que tenham a figura de um goleiro (handebol, pólo aquático, hóquei, futebol, futsal…).

No entanto, no futebol de 5, o goleiro tem a dupla tarefa de defender sua meta e ainda orientar seus companheiros da melhor maneira possível em seu terço de quadra. Essa tarefa é praticamente impossível de ser simulada num treino isolado, contando apenas com a presença do goleiro, alguns outros companheiros de posição e o treinador, como é característico dos treinos específicos.

É importante que o goleiro esteja presente em todos os momentos do treino para que ele compreenda também como se comunicar efetivamente com os atletas com deficiência visual. Sugere-se que, quando o goleiro está em espera, que este também seja um momento em que ele participe como chamador, contribuindo para seu entrosamento. Além disso, na posição de chamador, o goleiro descobre as janelas de chute (affordances) dos atacantes.

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