Por João Vitor Martins e Leonardo Martins
Ao realizar a análise de uma partida em um esporte coletivo, podemos observar momentos distintos dentro do jogo. Tais momentos podem ser melhor entendidos pelas situações em que os times se encontram e como eles se organizam para enfrentá-las. Em nossa concepção, no futsal/futebol os principais momentos do jogo são: transição defesa-ataque, organização ofensiva, transição ataque-defesa e organização defensiva. A forma como um time se comporta em cada um desses momentos é balizada pelo modelo de jogo pré-estabelecido.
Segundo Joca Mariano (2006), a junção e interação da ideia de jogo do treinador, dos princípios de jogo, da organização funcional, das características dos jogadores e da organização estrutural resultam em um modelo de jogo. Somado a
isso, e adaptando a proposta do autor, consideramos que, a priori, deve ser levado em conta a identidade da equipe e da instituição onde será implementado o modelo. Entretanto, sua aplicação não é algo de fácil execução e que se aplica do dia para a noite. Objetivamente, um modelo de jogo representa um sistema e possui as propriedades associadas a ele, podendo ser melhor compreendido através do pensamento sistêmico. Para um modelo ser aplicado de forma eficaz, visando alcançar os resultados almejados, é necessário um longo processo de preparação e direcionamento dos subsistemas que o compõem, visando a auto organização.
Tudo se inicia com a idealização do treinador sobre como sua equipe irá se portar em campo, quais comportamentos e padrões ele quer que sejam revelados pelos jogadores do time que comanda, que quando articulados entre si, evidenciam um padrão ainda maior, ou seja, a identidade do time. Ainda, para se determinar esse modelo, o treinador deve conhecer as características, capacidades e entendimento do jogo de seus jogadores, para que não tenha que alterar suas ideias, e sim, organizá-los em campo de forma que potencialize suas ideias iniciais, os princípios do jogo e características de cada um.
Diante disso, podemos perceber que o modelo de jogo possuirá uma influência nas ações dos jogadores em campo/quadra, mas não de uma forma diretiva, indicando todos os caminhos que eles devem percorrer. Seguindo um pensamento ecológico, a percepção direta do atleta no momento da disputa é um constrangimento de primeira ordem, ou seja, é o principal fator para que ele tome as decisões dentro do ambiente de jogo. O modelo de jogo da equipe, por outro lado,
atuaria como um constrangimento de segunda ordem, se limitando a influenciar essa percepção, indicando pontos relevantes que os atletas devem identificar e assim deixando mais ou menos convidativas certas ações.
O treinador, tendo um modelo de jogo claro ao elaborar tarefas de treino, poderá construir ambientes representativos com esses pontos que ele considera relevantes para sua equipe. Quanto mais os jogadores vivenciarem essas situações, mais sintonizados com esses problemas eles ficarão, criando assim um conjunto de referências que irão regular (e não determinar) suas ações, levando a respostas mais assertivas individualmente e sinérgicas coletivamente.