Por Pedro Torres, Rafael Monzem e Rodrigo Araujo
O Talento esportivo, visto como objeto de estudo, tem sido uma das principais temáticas no que tange a ciência do desporto.
A busca por atletas talentosos adquire uma relevância considerável. Portanto, conhecimentos aprofundados sobre os processos que envolvem o desenvolvimento de um indivíduo acima da média são primordiais para este entendimento.
Quais seriam os aspectos envolvidos neste processo de identificação do desenvolvimento do talento? Sob quais perspectivas tais processos são orientados no Brasil? Quais seriam os mais adequados? Sendo o país um dos principais formadores de futebolistas talentosos para o cenário mundial, esta pergunta e sua respectiva resposta, ou respostas, adquirem uma relevância ainda maior. Neste texto, abordaremos alguns destes pontos, tomando a Dinâmica Ecológica como fundamentadora das ideias nele apresentadas.
Diferentemente de outras propostas teóricas, a Dinâmica Ecológica propõe a aquisição de habilidades motoras sob a influência de constrangimentos impostos pelo acoplamento indivíduo-tarefa-ambiente, de maneira indissociável. O ambiente em que o indivíduo está inserido não só exerce imenso impacto em como ele se comporta, mas é integrante ativo do processo de percepção/ação, do mesmo.
Ainda, as múltiplas possibilidades de ação presentes no ambiente de prática, ajudarão a compor o contexto, guiando o praticante à melhor sintonia com os aspectos de relevância da tarefa, fazendo com que as soluções motoras emerjam dessa relação.
Na prática do futebol, tanto numa estrutura formal (e.g., sessão de treino), como numa informal (e.g., futebol de rua), a sessão de atividade tem o papel de fomentar a formação de jogadores, e é passível de alterações e transformações, que promovem variabilidades suficientes para os indivíduos se sintonizarem com as variáveis relevantes para o desempenho, e assim, consigam apresentar soluções motoras que atendam aos problemas presentes no jogo formal.
Outro aspecto relevante e de suma importância para entendermos o talento brasileiro para o futebol, é o fator sociocultural. Ainda pelo prisma da Dinâmica Ecológica, podemos considerar que a cultura futebolística brasileira interfere na dinâmica social do país.
O número de praticantes de futebol é imenso. Juntamente com a forma de ser do povo brasileiro, essas estruturas exercem pressões sobre os indivíduos, assim como os balizadores da tarefa, direcionam suas percepções e moldam a maneira como eles se relacionam e percebem diferentes situações dentro do contexto específico.
Desta forma, podemos pensar, sob o prisma da Dinâmica Ecológica e suas principais características, que temos alguns fatores principais (além do jogo em si, etnia, genética e localização geográfica – não tratados neste texto) que explicam o talento do jogador de futebol brasileiro: os fatores socioculturais e os ambientes de prática (e.g., ruas, praias, quadra, grama, terra, entre outros).
Porém, não podemos dizer ou afirmar, que o fator sociocultural determina o ambiente de prática, nem dizer que a prática determina culturalmente a forma de jogar. Acreditamos que ambos estejam interligados ou acoplados e não podem ser dissociados (indivíduo, ambiente e jogo) para explicar a formação do talento brasileiro.